terça-feira, 28 de outubro de 2008

A LIBERDADE DE COMUNICAÇÃO: uma condição fundamental da aprendizagem!

O sentimento de liberdade de comunicação na sala de aula (1) é uma condição básica de uma frutuosa aprendizagem. Isso pressupõe a ausência de juízos precipitados por parte de pais e professores sobre o que está “errado” no que a criança diz (2). Se esta interioriza, que a expressão do que vai na sua mente tem um elevado risco de ser julgado como errado, tende a evitar esse juízo, calando-se. Na criança contrai-se o corpo e a mente em vez da expansão. O fluxo do pensamento e das ideias pára e a qualidade da aprendizagem fica mais pobre.

Qualquer comentário da criança pode ser incorporado na dinâmica da aprendizagem, sem juízos de valor negativos (3). Note-se que se a criança bloqueia a comunicação, não há lugar para as ideias menos boas mas também não há para as ideias brilhantes. E muitas das ideias “erradas” revelam uma elevada capacidade imaginativa - ao comunicá-las a criança expressa a sua criatividade e cria oportunidades de reflexão colectiva.

Recordo-me de uma aula de uma turma do 2º ano, em que a professora-estagiária abordava os meios de comunicação. A dada altura referia-se aos correios, tendo um aluno dito que costumava meter cartas no marco do correio para o pai, que estava em França. Perguntou então a professora como é que as cartas metidas no marco chegavam a França. O Luís (7 anos), tropeçando nas palavras, dizia com entusiasmo que “por baixo da terra os homens tinham feito um furo muito grande, que chegava até à França, e que as cartas iam por aí”.

Numa das aulas seguintes os alunos faziam bolinhas de plasticina e colocavam-nas na água de uma bacia, verificando o seu afundamento. Foi então colocado aos alunos a seguinte questão:

- Haverá alguma forma de fazer a plasticina flutuar?

Os alunos achatam a plasticina, fazem uma “salsicha”, fazem bonecos com pernas e braços, etc. Todas as tentativas resultavam infrutíferas, quando o Luís disse bem alto para todos:

- Vou fazer um “barco”!

Moldou uma concavidade na plasticina, colocou-a cuidadosamente na água e, para espanto e alegria de todos, a plasticina ficou a flutuar. Toda a turma se empenhava então a fazer “barquinhos” de plasticina.

O Luís era a mesma criança que imaginava um “furo” debaixo da terra para as cartas chegarem à França.

- Caro leitor, será então verdade que os corpos leves flutuam e os pesados vão ao fundo?
- Será verdade que um grão de areia é pesado e um navio é leve?
- Que dizem a isto os seus filhos?


1) Esta noção de liberdade não faz a apologia do professor sem autoridade; pelo contrário, a autoridade é indispensável em qualquer professor. Esta liberdade está ao serviço de uma clima de trabalho sério e responsável. As crianças são capazes de entender isto muito bem.
2) Pomos de parte considerações sobre os castigos corporais da escola salazarista.
3) Não consideramos aqui os exercícios gratuitos de exibicionismo ou de chamadas de atenção injustificadas.

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