segunda-feira, 11 de maio de 2009

FLUTUAR-AFUNDAR: concepções da criança IV

[Continuação de Flutuar-afundar: concepções da criança III]

A) A bolinha de papel de alumínio
(continuação)

Os alunos são convidados a comprimir bem a bolinha de papel de alumínio e a verificarem experimentalmente o seu comportamento na água. Depois da observação de afundamento (antes flutuava) segue-se um processo de reflexão.

Questão 3

– O peso da folha de alumínio ficou diferente?

A Rita (9 anos) comenta: afundou-se porque não tem ar. Pergunto se o peso da folha de alumínio se alterou. Segundo o Tiago (9 anos) ficou inferior; a Rita (9 anos) é de opinião contrária: ficou superior; o Zé Pedro (10 anos) e o Tiago (9 anos) introduzem a variável volume do corpo: o volume ficou inferior; a Sofia (10 anos) discorda: o volume ficou igual. (…) O Fernando (10 anos) afirma que o peso não é o mesmo porque senão ficava a flutuar, só se depender do volume. Este aluno acaba de introduzir a possibilidade de a flutuação depender da coordenação entre peso e volume do corpo, porém não tem ainda a noção de conservação do peso. Alguém diz ainda que o ar faz que a bola tenha menos peso (situação inicial). (…)

Análise interpretativa

O Tiago, que é um dos melhores alunos, parece estar a pensar no volume (a questão referia-se ao peso) ao afirmar que ficou inferior. Logo adiante ele afirma que o volume ficou inferior, o que é revelador da dificuldade em se pronunciar sobre o peso, preferindo pronunciar-se sobre algo que para si está claro: a diminuição volume. O Fernando sustenta que houve variação do peso (senão ficava a flutuar), mas considera também que o peso pode constante se a variação de volume tiver influência na flutuação (na mente do aluno estará a diminuiçaõ de volume). A Rita, ao ver papel de alumínio afundar-se, diz que o peso ficou superior, o que corresponde à utilização do esquema leve-flutua/pesado-afunda. Talvez a Sofia fale do volume pensando no peso, pois é notório que o material foi comprimido: o volume ficou igual. Os alunos revelam muita dificuldade em operar com os conceitos de peso e de volume como entidades distintas entre si, e independentes do contexto dos fenómenos em estudo no momento.

Excerto do diário

Nesta altura senti necessidade de sublinhar a distinção entre peso e volume, dado que entre os alunos parecia existir essa confusão. Fiz referência a objectos familiares com o mesmo peso e diferentes volumes, por um lado, e objectos com o mesmo volume e diferentes pesos, por outro lado (…). Alguns alunos compreendem que há diminuição do volume quando o papel de alumínio se afunda, pois, a bolinha foi apertada e ficou mais pequena. Mas o Tiago insiste que isso é só nessa matéria. A fim de conhecer melhor as ideias dos alunos quanto ao peso, pergunto: – Ao apertar a bolinha de papel de alumínio tirei papel? Todos respondem que não, em coro. Pergunto se acrescentei papel e todos respondem também que não. – Então que podemos dizer acerca do peso, antes e depois de apertar a bolinha? É o mesmo, fica maior ou menor depois de apertada? O João (10 anos) conclui que o peso fica igual porque não fica com mais nem com menos papel. Alguns alunos manifestam a sua concordância. (…) Circulo pelos grupos e observo um aluno que comprime a bolinha de papel de alumínio, pisando-a com o sapato; observo ainda que alguns tentam dar à folha de alumínio afundada a forma inicial para a fazerem flutuar de novo. Entre os diversos comentários registo o seguinte: A bolinha amassada fura melhor a água. Pergunto porquê. Um aluno responde: Porque o peso uniu-se no mesmo sítio. Estamos perante uma noção intuitiva de densidade.

[Continuação em Flutuar-afundar: concepções da criança V]

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