Excerto de um diário de aula que escrevi aquando da aula de observação das rãs numa turma do 4º ano:
A professora sugere que durante cinco minutos observem e brinquem com a rã sem a molestarem. Observo que em dois grupos os alunos se dão conta de que a rã é mais escura fora da água do que dentro, algo que eu desconhecia e prendeu a minha atenção. É visível o interesse e satisfação dos alunos em observarem, mexerem, pegarem nas rãs. Passado esse tempo é dada a indicação para registarem o maior número de observações. Durante os registos os alunos interrogam-se acerca dos termos a utilizar e sobre como se escrevem. Quando não conseguem resolver as suas dificuldades quanto aos vocábulos necessários para registar observações, pedem ajuda ao investigador ou à professora. (...) Num dos grupos viram a rã ao contrário para constatarem que tem a parte de baixo branca. Os alunos estão altamente interessados e completamente absorvidos. Não resisti, por isso, a pôr-lhes uma pergunta, ainda antes da discussão das observações:
- "Imaginem que em vez de terem aqui as rãs dávamos esta aula de outra maneira. Eu dizia-vos por palavras como era a rã, escrevia no quadro para vocês copiarem e até podia fazer um desenho. Que acham vocês de uma aula assim?"
Instantaneamente muitos braços se erguem no ar para pedirem a palavra, sendo algumas das respostas as seguintes:
- "Nós ficávamos a saber que o Dr Sá sabe coisas acerca da rã mas nós ficávamos sem saber nada”;
- "O Dr Sá tinha observado uma rã e nós também queríamos observar para aprender como ele";
- "Com a rã aqui na sala nós descobrimos por nós mesmos", diz o Fernando enfatizando o significado das palavras com o gesto de bater com a mão no peito;
- “Se o Dr Sá desse esta aula a escrever coisas no quadro nós perdíamos o interesse”;
- “A professora às vezes diz que desiste das aulas de Ciências por causa do barulho, mas se estas aulas fossem dadas só a escrever no quadro éramos nós que desistíamos” (Tiago, 9 anos.
Fiquei completamente siderado perante a impressionante força da mensagem expressa pelas crianças. Muita da psicologia da aprendizagem contida nos manuais estava ali, dita em palavras simples de crianças de 9/10 anos.
2 comentários:
A verdade é que as crianças nos conseguem sempre surpreender com as suas observações, na maioria das vezes, verdadeiras!
Actualmente, muitos pais ficam admirados com as observações que as crianças lhes fazem, embora hoje em dia existam diversos factores que contribuem para encurtar a infância, tais como a televisão, a publicidade, a sociedade e os próprios pais, que desde que a criança foi reconhecida como pessoa, têm tendência para a considerar como um adulto que não é.
Ao esquecer a sua idade e a geração que os separa, ficam aflitos quando a criança se afirma com convicção.
Se muitos educadores e professores ouvissem, na maioria das vezes, as palavras simples das crianças, será que as aulas não seriam mais interessantes e mais participativas do ponto de vista da aprendizagem, que é o que nos transmite o post?
Um abraço, RS(Doctorices/Criancices)
Enviar um comentário