quarta-feira, 1 de julho de 2009

Flutuação: Peso e Impulsão ou densidade do corpo e densidade do líquido?

Até aqui ainda não falámos da flutuação em termos da densidade do corpo e da densidade do fluido (líquido ou gás). Pela minha experiência, depois de actividades de ensino experimental adequadas, crianças do 4º ano são capazes de prever que dados dois corpos com o mesmo peso (e massa), com volumes diferentes, se um dos corpos flutua esse será o maior deles. Todavia o conceito de densidade é complexo para as crianças do 1º ciclo, não sendo recomendável, do meu ponto de vista, enveredar por explicações que passem po aí. Mas é importante que os professores conheçam bem o princípio de Arquimedes que envolve a densidade e poderão então explorar até onde podem as crianças ir. É frequente em situações práticas o afloramento na mente das crianças de um noção qualitativa e intuitiva de densidade, como já relatei num dos meus livros.

A densidade é uma medida da concentração da matéria num corpo ou material, sendo dada pela divisão entre a massa e o volume (m/v). A densidade da água, por exemplo, é de 1g/cm3. Quando comprimimos uma certa quantidade de ar dentro de uma seringa, estamos a diminiuir-lhe o volume, mantendo-se igual a massa. Isso significa que a densidade do ar é maior quando empurramos o êmbolo para baixo do que quando puxamos o êmbolo para cima.

É frequente a ocorrência de explicações sobre a flutuação, ora com recurso ao peso e impulsão, ora com recurso à densidade do corpo e à densidade do líquido, como se de duas explicações diferentes se tratasse. É importante sublinhar que se trata da mesma explicação, ou, melhor dizendo, a relação de grandeza entre as densidades é uma consequência matemática da relação de grandeza entre o peso e a impulsão.

Com efeito, se considerarmos o corpo inteiramente mergulhado no fluido (volume do corpo imerso igual ao volume do próprio corpo: Vci=Vc), a relação de grandeza entre o peso do corpo e a impulsão é equivalente à relação de grandeza entre a densidade do corpo e a densidade do fluido.


Vejamos.

De acordo com o princípio de Arquimedes, o valor da impulsão (I) é igual ao peso do fluido deslocado pelo corpo. Tratando-se de um líquido, calcula-se o peso do volume de líquido deslocado pelo corpo. Teremos então:

I = dl .Vc . g

E quanto ao peso (P) teremos

P = dc .Vc . g

dl - densidade do líquido
dc – densidade do corpo
Vc – volume do corpo
g – aceleração da gravidade

Conjugando I e P assim definidas matematicamente,

P > I → dc .Vc . g > dl .Vc. g → dc > dl → corpo afunda-se
e
P <>

Se teve dificuldade em compreender estas deduções matemáticas, atente fundamentalmente no seguinte: quando o peso do corpo é superior à impulsão verifica-se também que a densidade do corpo é superior à densidade do fluido: o corpo afunda-se; quando o peso do corpo é inferior à impulsão verifica-se também que a densidade do corpo é inferior à densidade do fluido: o corpo sobe até à superfície e fica a flutuar. Quando ocorre a flutuação o peso e a impulsão tornam-se iguais (a impulsão, que era superior ao peso, diminui quanto o corpo fica parcialmente fora da água).

2 comentários:

Manuela Silvestre disse...

O Ensino Experimetal das Ciências e a Educação para a Ciência são fundamentais no Pré-escolar e no 1º ciclo do Ensino Básico.
Experiências simples mas muito lúdicas podem levar os "pequenos cientistas" à descoberta do mundo e à descoberta das ciências.
Portanto, é necessário formar professores do 1º ciclo e educadores de infância não só com as competências adequadas ao ensino experimental das ciências, mas também com motivação necessária.
Sou professora da ESE Almeida Garrett e dedico-me ao Ensino Experimental das Ciências, e Educação para a Ciência, na forma ção de Educadores de Infância e Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico, desde 2001.
Manuela Silvestre

Joaquim Sá disse...

Professores com a motivação necessária para o Ensino Experimnetal das Ciência? Com certeza que sim. Essa motivação será parte integrante das competências do professor. Mas se o que quer dizer é que as actividades experimentais devem ser apelativas e estimulantes para as crianças, também concordo, do mesmo modo que discordo de tentativas apressdas de fazer algo que mimetiza com as crianças um tipo de ensino de liceu. Todavia, não nos podemos contentar com o impressionismo de que as actividades são lúdicas e as crianças "gostaram muito". Existe muito essa tentação quando se aborda esta problemática de forma superficial: as crianças mexem nas coisas, falam, movimentam-se,dizem que é giro, etc. e no final não se sabe qual foi o resultado educativo de tudo isso. Temos que nos preocupar com o que as crianças aprendem, com o contributo que as ciências experimentais podem dar para o seu desenvolvimento. Isso requer uma acção docente intencional e cuidadosamente pensada. E isso requer que os professores/educadores tenham conhecimentos científicos apropriados, não para ensinar às crianças esses mesmos conhecimentos, mas para que o professor possa estimular o pensamento da criança, direccionando a sua curiosidade num processo de progressiva aquisição de conhecimentos.