P - O que há dentro deste frasco?, perguntei.
R - Não tem nada, disseram.
P - Nada? Já ouviram falar de ar?, perguntei.
R - Já.
P - Há ar nesta sala?
R - Não, só se abrirmos uma janela.
P - Mas vocês respiram ou não dentro da sala?
R - Sim, respiramos.
P - E o que é preciso para vocês respirarem?
R - Ar.
P - Então o que é preciso haver na sala para vocês poderem respirar?
R - É preciso ar.
P - Então na sala há ar ou não?
R - Há.
P - E dentro deste frasco o que há?
R - Tem ar.
Este exemplo de questionamento revela que as crianças são frequentemente contraditórias, mas isso não significa que não tenham apreço pela lógica. A contradição reside na ausência de consciência da contradição. As boas questões estimulam as crianças à reflexão, conduzindo assim à tomada de consciência da contradição - esforçam-se então por eliminar a contradição logo que dela tomam consciência.
Neste caso, as crianças compreendem que não é compatível o conhecimento de que respiram com a ideia de que não há ar na sala. Isso leva-as ao reconhecimento de que existe ar na sala e que sendo assim será natural que exista ar no frasco. A simples reflexão das crianças, pela via do questionamento do adulto, conduz ao conhecimento de que há ar na sala, sendo assim abandonada a ideia contrária inicial.
3 comentários:
Uma Santa e Doce Páscoa, RS.
Antes de mais, quero felicila-lo pela sua obra já publicada. Eu diria que é preciosa. Não explorei o ar com crianças assim tão pequenas, deve ser interessante. Normalmente, exploro a existência do ar com os alunos do 2º ano. Portanto, já têm entre 7 e 8 anos. Quando pedimos para encher um balão, os alunos fácilmente referem o seu conteudo. Já não acontece o mesmo se perguntar de onde é que vem esse ar, assim como o seu percuso.
É muito produtivo desenvolver o diálogo com os alunos à semelhança do seu exemplo com crianças de 5 anos. Gostei muito.
Não é fácil, por isso é preciso preparar algumas questões e ao longo do tempo verificar e melhorar.
Jorge Gouveia
Caro Jorge Gouveia, só hoje, revisitando um pouco o blog mais para trás, tomei conhecimento deste seu comentário.Depois de o ter "visto" como seguidor procurei alguma forma de falar consigo mas não a encontrei. Posso agora fazê-lo.
Muito obrigado pelas suas considerações de apreço pelo trabalho que venho divulgando. Considero-o um bom interlocutor,dada a sua formação científica, a sua condição de professor e seus tempos livres de ciência com as crianças. De facto o questionamento é uma ferramenta poderosíssima no processo de ensino e muito especialmente com as crianças. Posso asssegurar-lhe que foram s crianças que me "agarraram" e empurraram para este trabalho. Trata-se de entrar num mundo imaginário que se transforma realidade. É isso que é fascinante. Felicidades para si.
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